sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

2012 é o fim do mundo ou um ano de sorte

Ignorando o espiritual em benefício do catastrofismo, o filme “2012” contribuiu bastante para divulgar a ideia que vai acontecer alguma coisa. (Keystone)

Por Isabelle Eichenberger, swissinfo.ch


As previsões se multiplicam para a data fatídica de 21/12/2012, e o fim do mundo previsto no calendário dos Maias.

A humanidade sempre teve medo da ideia de ser extinta, mais sonha principalmente com um mundo melhor. Na entrevista a seguir, o especialista de religiões Jean-François Mayer comenta esses receios da humanidade.

Até agora, a humanidade escapou de dezenas ou talvez centenas de profecias. As teorias mais diversas continuam a explorar guerras, tsunamis, atentados, catástrofes nucleares, grandes crises, pandemias e ameaças de meteoritos.

A data de 11/11/2011 foi alvo de previsões de numerologistas e profetas. Nesse dia, as autoridades egípcias fecharam a pirâmide de Quéops para impedir eventuais ritos de passagem para o outro mundo.

Chegamos a 2012. Para alguns, o solstício do inverno 2012 teria um alinhamento extraordinário entre o centro de nossa galáxia, o Sol e Vênus, planeta venerado pelos ameríndios. Dos avanços em astronomia e matemáticas, a civilização maia nos legou um calendário de milhares de anos. Calendário cíclico que termina nesse dia.

swissinfo.ch: Jean-François Mayer, como diretor do Religioscope, o que o senhor acha dessas profecias?

Jean-François Mayer: A predição para o 11/11/2011 como um momento decisivo ou mesmo catastrófico, talvez com uma evacuação para uma outra dimensão, datava dos anos 1990. Mas essa data nunca suscitou expectativas tão amplas como as predições para o final de 2012 em torno do calendário maia.

No início, a referência ao calendário maia remonta a um americano-mexicano, José Argüelles, que publicou um livro em 1987 e organizou a "convergência harmônica", uma reunião de adeptos da corrente New Age que se desenvolveu na época e houve uma grande meditação coletiva em vários lugares do planeta, para preparar o caminho a um salto evolutivo da humanidade. José Argüelles não poderá saber se tinha razão, pois faleceu em 2011, mas ele esteve na origem desse grande interesse por 2012.

Com a aproximação da data, o tema foi retomado por uma série de autores cada um com sua teoria, daí as variações nas datas anunciadas. Hollywood também contribuiu muito para com 2012, filme de Roland Emmerich que saiu em 2009. Vários professores na Suíça e na França me contaram que os alunos estão preocupados pela ideia que o mundo pode acabar este ano.

swissinfo.ch: As catástrofes cinematográficas ou reais alimentam todas as crenças. As grandes religiões também abordam o fim do mundo, a começar pelos cristãos com o Apocalipse. Por que os seres humanos precisam ter medo?

J.-F.M.: Brincar de ter medo ocupa um certo espaço, principalmente entre os jovens, mas esse é apenas um aspecto. É verdade que o Apocalipse serviu de tela de fundo para excitar as imaginações durante séculos. Mas o Apocalipse não é o fim de tudo: ele prediz um novo começo e traz a esperança de um mundo enfim livre dos nossos defeitos, onde não haverá mais injustiças, doenças, um mundo perfeito.

Ocorre o mesmo com cenários em torno de 2012, que acentuam a passagem a uma nova era. Essas mensagens são uma revitalização das correntes do New Age que aspiravam a uma transformação coletiva da humanidade, da consciência humana. Depois foi dito que essa dimensão coletiva passou a segundo plano, em benefício do conceito de atitude pessoal.

Eu penso que essa esperança de um mundo transformado sempre existiu e reaparece através da cristalização de uma data. Isso responde às aspirações de um público engajado em buscas espirituais em margem das grandes tradições religiosas. Hoje é um mundo vasto e um mercado próspero.

swissinfo.ch: Mas os profetas correm riscos porque, até aqui, as predições não ocorreram?

J.-F.M.: Não foi encontrada nenhuma predição clara dos Maias sobre o fim da humanidade, mas esse calendário e data de 2012 propiciaram um argumento a essas teorias, supostamente apoiadas nos ensinamentos de uma cultura mais sábia do que a nossa.

Aliás, muitos autores que já ativos antes integraram 2012 como um argumento adicional. Por exemplo, temos um suíço que é um dos autores mais vendidos no mundo, Erich von Däniken (ver matérias relativas): desde os anos 1960, ele publicou dezenas de livros sobre as origens misteriosas das civilizações e as intervenções de extraterrestres na história longínqua. Ele criou inclusive o Mystery Park em Interlaken, em 2003, que fez sucesso antes de fechado em 2009. Erich von Däniken também utilizou o tema de 2012: o calendário maia anunciaria o retorno dos extraterrestres.

A maioria dos autores se abstém de dar uma data exata, mas falam apenas de 2012, como início de um processo; outros, como Erich von Däniken, contam com uma margem de erro de várias dezenas de anos. Em todo caso, as estratégias de explicação estão montadas para evitar que a não realização de um acontecimento seja interpretada como um fracasso.

swissinfo.ch:Então trata-se de um mercado espiritual?

J.-F.M.: De fato. Nos últimas anos vimos descendentes de Maias em roupa tradicional chegar à Europa para explicar o que se deve pensar de 2012. Ainda no último verão, um grupo da Guatemala reuniu cerca de 600 pessoas em Berna e encheu o Palácio de Congressos de Zurique, sem qualquer publicidade, simplesmente de boca em boca.

É interessante, porque a dimensão indigenista da mensagem deles não responde necessariamente às expectativas aqui. Em contrapartida, os aspectos ecológicos ou feministas atingem o público ocidental. O fascínio por culturas exóticas idealizadas desencadeiam retomadas seletivas.
 
Uma história interessante é que esse grupo que veio à Suíça no verão pertence a um movimento religioso neo-maia, que tem como membro o ex-presidente da Guatemala (Alvaro Colom, ndr). Este não tem nada de origem maia, mas foi considerado "padre" mayi honorífico pelo fundador do movimento.


Um outro exemplo é o de Madre Mah Kin no México, que também anuncia uma nova era em 2012, em que as mulheres terão um papel central. Se lemos um pouco, vemos que sua mensagem é muito longe de uma religião popular indígena, mas integra muitos temas emprestados a grupos e pensadores ocidentais. Há portanto uma interação, uma fertilização mútua, fascinante e, em 2012, há forte probabilidade que esses países da América Central recebam gente de todo lugar para preparar a grande transformação.  


Isabelle Eichenberger, swissinfo.ch
Adaptação: Claudinê Gonçalves
Extraído de:
:http://www.swissinfo.ch/por/sociedade/_2012_e_o_fim_do_mundo_ou_um_ano_de_sorte.html?cid=31858850

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